Quem conta um conto #2: Machado é chato

“E até quando as feias se fazem amar, é sempre doida e perdidamente, diz La Bruyère, porque foi de certo por filtros poderosos e vínculos desconhecidos que elas souberam atrair e prender.”

Título do conto: A Pianista
Autor: Machado de Assis
Versão para Kindle (baixe gratuitamente)
Publicação Original: Jornal das Famílias – 1866

Resenha: O conto narra o amor entre Malvina, professora de piano e Tomás, filho de Tibério Valença, homem rico e principal – e único – desaprovador do romance. A história se passa em 1850 e conta superficialmente à vinda do império português ao país, passagem simples, mas essencial para explicar o comportamento de Tibério que, tal como o pai, fazia questão que os filhos se casassem com pessoas de sobrenome nobre. Ao descobrir os cortejos do filho faz o rapaz escolher entre a jovem e o reconhecimento do pai. Surpreendentemente o rapaz não se revolta ou foge de casa, em um desespero de se unir à amada: acata por respeito o desejo de Tibério, pois, nas palavras de Tomás, entre uma mulher e o amor do pai, era evidente sua escolha.
Não demora muito para que o casal, não suportando a distância, volte a se ver e acabem se casando. Tibério não faz um escândalo muito menos tenta impedir, apenas corta relações. Simples assim. É um dos pontos mais cativantes da história: não existe um ápice, uma grande reviravolta, uma tentativa mesquinha e agressiva de ter tudo como bem entende: os personagens agem como pessoas normais agiriam em situação semelhante. O grande clichê se dá quando, doente, Tibério é cuidado pela nora, a qual nunca considerou digna ao filho por ser pobre e sem nenhuma ligação à nobreza. E não, ele não muda seu modo de pensar, ainda não entendendo como o filho consegue ser feliz vivendo humildemente com a esposa sendo que era dono de uma casa requintada com todo o luxo que se poderia ter na época de 1850. Aos poucos o pensamento daquele homem muda, porém não totalmente. É como diz o ditado: “não se pode ensinar truque a um cão velho”. Dentro de suas limitações e aceitações, o pai de Tomás acaba por respeitar a decisão do filho e nora, os reconhecendo como membros da família.
Recomendo o conto por ser simples e de surpresas agradáveis. O despertar de um homem para a realidade e o mundo a sua volta é feita sem muitas interferências grandiosas, sendo apenas sua descoberta e aceitação para uma situação a qual ele negava, bem como muito acontece conosco quando percebemos de uma hora para outra como mudamos e, consequentemente, como acabamos crescendo com isso.


Machado é chato? Dê uma chance à ele!

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