Quem conta um conto #27: Finados

Caso você presencie a ressurreição de pessoas falecidas, e estas tentem lhe devorar, não utilize esta obra como guia de sobrevivência. Nesse caso, procure as autoridades competentes ou, na falta delas, apele para a oração.  
Que Deus tenha piedade de sua alma.



Título: Todo dia é dois de novembro
Autor: Samuel Cardeal e Caroline Centeno
Publicação: Amazon (2014; 21 páginas)

Sinopse: Brasil. 
Dias atuais. 

Um vírus de origem desconhecida se alastrou, fugindo do controle das autoridades. Aqueles que antes estavam mortos agora caminham sobre a terra. Aqueles que ainda estão vivos lutam para não serem devorados e se metamorfosearem em monstros. 

Dois contos, duas histórias; não sobre mortos-vivos, mas sobre sobrevivência. 

O que você faria se todo o dia fosse o dia dos mortos?

Resenha: Já que todo dia é dois de novembro, não tem problema atrasar a resenha, certo? Certo. *haha*

Todo dia é dois de novembro brinca com a data nacional, o feriado de Finados. Partindo do luto que a data invoca, Cardeal e Centeno se uniram para publicar dois contos centralizados no tão ovacionado e queridinho pelo público atual (e anterior, vide a franquia de games e filmes "Resident Evil"): zumbis. Ora, se Finados lembra os vivos de seus entes falecidos, por que não revivê-los?

"Sem opções, Sophie atirou, rompendo o cadeado. O estrondo chamou a atenção de outras criaturas; teriam que correr ainda mais. Abriram o portão e entraram, fechando-o no último segundo. Logo os mortos atacavam o metal, famintos por carne fresca."

Uma pequena rebelião interna em um grupo de sobreviventes é a ideia do primeiro conto. Uma fuga rumo ao resto de vida que ainda restou àquelas pessoas, um mundo onde não há mais amigos, apenas sobreviventes. É uma realidade terrível e muito possível, caso o mundo vire o caos que essas rebeliões de mortos-vivos: quando não se há mais escapatória, em quem você deve confiar? Ou não deve? O que você deixa para trás é um amigo, um aliado, um traidor ou sua humanidade? Estão todos infectados; não sabemos se é exatamente desse vírus.

"Acariciei seu cabelo e levantei para pegar meus instrumentos. Fiz um exame sucinto. A pressão arterial estava um pouco alta, nada alarmante. Mas a saturação de oxigênio no sangue estava em 34. A glicose 22. Examinei os olhos, as mucosas, os ouvidos... O desespero me assolou. Estava acontecendo..."

Em contrapartida, há aqueles que tornam alguém o principal motivo de sua luta. É por amor que um médico atravessa as fronteiras do país em busca do principal culpado pela epidemia zumbi que assola o mundo, o paciente zero. E se sua maior declaração de amor é arriscar-se entre seres decrépitos, desprovidos de qualquer sentimento que não o da fome insaciável, explodir algumas cabeças certamente é uma prova e tanto, mais digna que a de cavaleiros empunhando espadas. E a reviravolta revelada ao nosso guerreiro apaixonado não se encontra em qualquer obra.

Indicado a todos os amantes de zumbis e de um bom plot, "Todo dia é dois de novembro" apenas reforça, sem grande número de páginas, que o trabalho nacional não deve em nada ao tema e que um apocalipse em terras tupiniquins pode ser tão apavorante quanto os que rodeiam seus seriados preferidos...

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