Você sabia? Contos populares

Cada região possuí contos, às vezes cantados, outras rimados. O texto abaixo é um conto rimado (quem souber o termo correto, porfa, me corrija) da região de Minas Gerais, descoberta feita pela minha amiga Claudia. Boa leitura!



O Berranteiro Fantasma


Não fique assustado com a longa historia que aconteceu no passado, Eu não vivo mais nesse mundo, vivo ao lado de Deus num lugar abençoado. Quero que prestem atenção, amigos e companheiros, Já toquei muito boi na estrada, já fui peão de boiadeiro. Um dia eu saí de casa com muita pressa de voltar, Reuni meus companheiros pra uma boiada levar. Na hora da partida, o que mais doía em meu coração era deixar esposa e filho na mais triste judiação, Porque pra gente faltava o leite, o arroz e o feijão. Reuni meus companheiros, fomos levando a boiada, Atravessei serras e montanhas, passei por estradas estranhas e vi a noite enluarada. Quando chegamos com a boiada, toda ela o fazendeiro contou, Deu os parabéns a todos os boiadeiros, nosso dinheiro no mesmo momento ele pagou. Eu peguei todo o dinheiro, reuni os companheiros que viajaram com a boiada, Muito alegre e feliz, porque pra casa nóis voltava. Alegre porque eu tirava minha família daquela triste judiação, Pra eles eu vinha trazendo o leite, o arroz e o feijão.
Chegando perto de casa deixei a companheirada, Montado na minha mula Ruana, eu conduzia ao longo da estrada. O dia já ia se escondendo quando, numa curva da estrada, encontrei com um cidadão que me pediu pra parar. "Amigo, me empreste um isqueiro que tenho vontade de fumar." Levei minha mão na sacola pra meu isqueiro tirar, senti um punhal de dois cortes no meu peito penetrar. Aquele cidadão não passava de um ladrão, ali ele tirou minha vida sem explicação. Meu corpo foi arrastado e jogado dentro da mata, junto com meu berrante fiquei morto ali no chão. Eu fui à porta do céu pra ver se conseguia entrar, falei com Jesus Cristo e ele disse assim: "Aqui, meu filho, você não entra não, aqui não entra ódio, não entra maldição! Você não consegue perdoar aquele que arrancou sua vida com o punhal na mão." Voltei pra mata fechada naquela curva da estrada, quando dava meia-noite, a coruja triste cantava. Eu repicava meu berrante relembrando os companheiros, os tempos de boi na estrada, quando eu fui peão de boiadeiro. O tempo foi passando, a mata ficou afamada, Quando dava meia-noite em ponto, o berrante triste tocava. A mata ficou assombrada, por ali ninguém passava. Eu tocava meu berrante não era pra assombrar ninguém, Era pra lembrar meus companheiros dos tempos de boiadeiro que tanto eu queria bem. Depois de muito tempo, eu consegui perdoar aquele que arrancou minha vida com suas próprias mãos, Voltei pra porta do céu e pra Deus perdi perdão, ele disse assim: "Meu filho, você não pode entrar não, ainda existe alguém lá na terra que te joga uma maldição! É sua esposa querida que, quando seus filhos perguntam "Mamãe, cadê o papai?", pra eles ela responde: "Arrumou outra família e de nós não lembra mais." Voltei pra mata fechada, quando dava meia-noite, a coruja triste cantava. Eu repicava meu berrante, relembrando os companheiros, os tempos de boi na estrada, quando fui peão de boiadeiro.

O tempo foi passando, meu filho ficou doente e precisava de um doutor, Minha esposa trazia meu filho numa charrete com um cavalo troteador. Deu meia-noite em ponto, em frente da mata ela ia passando, Ouviu o berrante triste naquele momento tocando. Ela parou a charrete e pro meu filho ela falou: "Esse toque de berrante da minha memória não sai. Será que está dentro da mata? Esse toque, meu filho, é o toque do berrante de seu pai!" Acendeu um farolete e na mata ela entrou, não muito distante debaixo de uma figueira um corpo ela encontrou, A carne já estava apodrecida, pois a terra a carregou. Um esqueleto estava no chão e tinha uma aliança de ouro na mão, herança do nosso amor, O berrante estava ali ao lado, herança do meu avô. Ela caiu de joelho no chão e pra Deus pediu perdão, A mim ela perdoou, agora vou junto a Deus e dos meus queridos pais, E o berrante da mata assombrada, ninguém vai ouvir nunca mais.

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